Porcentagem Real da Bateria: Por que seu carro ou celular pode desligar com 10%?
A ilusão da carga total ou mínima
Muitas pessoas já se perguntaram por que um carro elétrico ou celular pode desligar mesmo quando ainda marca 10% ou até 20% de carga.
A resposta está na forma como as baterias modernas interpretam e gerenciam sua própria energia interna.
Embora o marcador mostre 0%, 10% ou 100%, a realidade é mais complexa. As baterias, especialmente as de íons de lítio, não conseguem medir com precisão a carga abaixo de 10% ou acima de 90%.
Esse comportamento é natural da tecnologia atual e está relacionado à forma como os impulsos eletromagnéticos interagem com os componentes internos da bateria.
Casos comuns: BioID, smartphones e outros eletrônicos
No caso dos carros da BioID vendidos no Brasil, muitos motoristas relatam situações em que o veículo desliga ou entra em modo de segurança com 20 ou 50 km de autonomia restante.
Isso acontece porque, abaixo de 10%, a bateria perde a capacidade de informar seu nível real de carga e, como medida de proteção, força o desligamento do sistema para evitar danos à própria bateria ou ao motor.
O mesmo fenômeno ocorre em celulares, notebooks, scooters elétricas e outros dispositivos eletrônicos. Não se trata de um defeito específico, mas de uma limitação da tecnologia atual.
Abaixo de 10%: riscos reais
Engenheiros de empresas como Tesla, BYD e CATL alertam que não é recomendável operar qualquer aparelho eletrônico abaixo de 10% de carga.
Essa prática pode:
Reduzir a vida útil da bateria
Provocar desligamentos inesperados
Danificar componentes internos, em casos extremos
A Battery University, referência global no estudo de baterias, recomenda manter a carga entre 20% e 80% sempre que possível.
Os 100% também são ilusórios
O mesmo vale para o extremo oposto. Quando o marcador mostra 100%, na prática a bateria está entre 90% e 95%.
Os últimos 10% são reservas de segurança, usadas para prolongar a vida útil e evitar superaquecimento ou sobrecarga.
Por isso, é comum perceber que, após 90%, o carregamento desacelera bastante. Isso é intencional e faz parte da proteção da bateria.
E nos carros a combustão?
Veículos a combustão também sofrem de medições imprecisas.
Muitos motoristas já ficaram sem combustível mesmo quando o marcador indicava que ainda havia um pouco no tanque. Isso ocorre porque a boia de combustível nem sempre alcança o fundo do reservatório, resultando em leitura incorreta da autonomia.
Recomendações para preservar a bateria
Seja para veículos elétricos, híbridos, celulares ou notebooks, siga estas orientações:
Evite usar abaixo de 10% de carga.
Desconecte o carregador entre 90% e 95%, sempre que possível.
Não deixe o aparelho descarregado por longos períodos.
Use carregadores certificados, que respeitem os limites de voltagem.
Mantenha o sistema operacional atualizado para melhorar a gestão de energia.
Conclusão
A gestão de carga das baterias ainda é um desafio tecnológico.
Enquanto não surgem modelos com monitoramento totalmente preciso, o ideal é evitar os extremos, nem 0% nem 100%.
A autonomia real de um veículo ou dispositivo eletrônico não depende apenas do número exibido no painel, mas de diversos fatores invisíveis ao usuário.
Manter bons hábitos de carregamento e atenção ao uso é essencial para evitar surpresas desagradáveis na estrada ou no dia a dia.
Sobre o Autor
Telles Martins é colunista, palestrante e designer, especialista em carros híbridos e elétricos. Reconhecido por seu profundo conhecimento em veículos autossustentáveis e design automotivo, é uma voz influente na discussão sobre inovação em mobilidade urbana e sustentabilidade veicular.